11 dezembro, 2012

O Gozo Intelectual





Relato contido no interessante livro O Gozo Intelectual, escrito pelo físico Jorge Wagenberg

"No dia 7 de outubro de 2006, divido a mesa do restaurante Assador de Aranda, em Barcelona, com Leon Lederman, Prêmio Nobel em Física em 1988, sua mulher, Hellen, fotótgrafa, e Paquita Ciller, responsável pelas atividades do CosmoCaixa. Lederman pertence ao seleto grupo de grandes físicos vivos: StevenWeinberg, Sheldon Glaslow, Murray Gellman, Stephen Hawking, George Charpack... Dois deles , Charpark e o próprio Lederman, dedicam hoje boa parte de seu tempo a pensar a educação científica. Qualquer aspecto, formal ou informal, lhes interessa e os apaixona. Falamos de escolas, universidades, museus, meios de comunicação, da pesquisa de vanguarda em física ... De repente menciono o gozo intelectual e, quando me disponho a dizer o que entendo por ele, o professor Lederman se inclina pra frente e, sorrindo, me interrompe com uma confidência: É melhor que sexo!"


Já dizia o escritor britânico Aldous Huxley:

"Um intelectual é alguém que descobriu algo mais interessante que sexo."

21 agosto, 2012

O Poeta e o Lógico



Mão com esfera refletora. Obra do famoso artista gráfico M.C. Escher.

"Em todas as partes vemos que os homens não enlouquecem sonhando. Os críticos são muito mais loucos que os poetas. Homero é completo e bastante calmo; os críticos é que o rasgam em trapos extravagantes. Shakespeare é exatamente Shakespeare; apenas alguns de seus críticos é que descobriram que ele era alguma outra pessoa. E embora João, o evangelista, tenha visto monstros estranhos em sua visão, ele não viu nenhuma criatura tão louca como um de seus comentadores. O fato geral é simples. A poesia mantém a sanidade porque flutua facilmente num mar infinito; a razão procura atravessar o mar infinito, e assim torná-lo finito. O resultado é a exaustão mental, como a exaustão física do sr. Holbein. Aceitar tudo é um exercício, entender tudo é uma tensão. O poeta apenas deseja a exaltação e a expansão, um mundo em que ele possa se expandir. O poeta apenas pede para pôr a cabeça nos céus. O lógico é que procura pôr os céus dentro de sua cabeça. E é a cabeça que se estilhaça." G. K. Chesterton, Ortodoxia.


Se você acha que o Chesterton exagerou muito, veja o documentário da BBC Conhecimento Perigoso (Dangerous Knowledge, 2007).

Obviamente o estudo e exercício da logica é fundamental para a compreensão da realidade, nossa vida prática e o desenvolvimento da humanidade, mas equilíbrio é indispensável. O melhor é ter ambos, a inspiração poética e o rigor da lógica funcionando muito bem na mesma cabeça.




14 agosto, 2012

Conselhos Aos Jovens Cientistas

Palestra de Edward Osborne Wilson, biólogo e pesquisador de destaque mundial, que, segundo o The Guardian, "entende mais que qualquer um o relacionamento entre genes e cultura -- e começou com suas formigas". Vale a pena assistir.


 

02 agosto, 2012

Estilos de Escrita em Imagens

                                               



"O estilo é a fisionomia da alma", já dizia o filósofo Arthur Schopenhauer sobre a forma com que cada autor escreve.

Se o estilo de escrita pudesse ser representado por uma imagem, como seria ela?

A artista gráfico Stefanie Posavec tentou fazer essa representação analisando o primeiro capítulo de 16 clássicos modernos, incluindo autores como George Orwell, Aldous Huxley, Ernest Hemingway e Virginia Wolf. Já li algo (A Revolução dos Bichos, e Admirável Mundo Novo) dos dois primeiros autores que citei, são maravilhosos em construir mundos imaginários. Penso que o mundo atual seria muito bem descrito como uma combinação do mundos construídos pelo Huxley e o Orwell. Falarei mais disso, pois o tópico merece uma postagem.

Voltando ao tópico principal, Posavec se baseia do número de palavras por sentença para a construção de seus gráficos de estilo. Desenhos mais enrolados significam o uso de sentenças mais curtas, enquanto desenhos mais longos significam frases longas no decorrer do capítulo analisado. Veja  todos os 16 desenhos clicando nas imagens que aparecem aqui.

Outro trabalho interessantíssimo dessa artista foi batizado de "Literary Organism". Nele ela constrói uma estrutura em forma de árvore para indicar as subdivisões da Parte Um da obra On The Road. Onde a Parte Um se divide em capítulos, os capítulos se dividem em parágrafos, parágrafos dividem-se em frases, sentenças e dividem-se em palavras. As cores definem os diferentes temas abordados. O resultado é muito bonito.

                             

27 julho, 2012

Sobre a Demora para Começar a Viver



Estava lendo a obra Life Begins at Forty (A Vida Começa aos Quarenta, 1932), escrito  por Walter Pitkin. A obra foi traduzida para o português pelo escritor Érico Veríssimo. Muito interessante. O autor escreve com paixão sobre seu tema. Como apenas comecei, quero por enquanto partilhar algo que li. Posteriormente pretendo escrever um post mais detalhado sobre o livro e as ideias que ele me deu. O texto que partilho fala sobre a futilidade dos jovens da época (meados de 1930). Qualquer semelhança, infelizmente, não é mera coincidência. Eis a citação:


"For some years, says Rogers, in his charming little book on 'How to be Interesting', he has traveled much in and out of Boston on trains filled with commuting students enrolled in the high schools, colleges, and technical schools of that erudite center. He has listened long to their conversation. They say absolutely nothing. They talk interminably about grades, athletics, and personalities. They do not read the newspapers. They never discuss the content of their studies . . . Neither their families, their teachers, nor public opinion have ever taught them the possibilities of being educated and cultivated—of being interesting people . . .


The time they waste is appalling. They could do the larger part of their studies on those trains. They could read a good newspaper thoroughly; they might read any one of half a dozen well edited and well written magazines . . .

Here is the American scene! A sorry spectacle, I think. Millions of well-to-do people of all ages and culture who have never learned the first lesson of living." p.17

18 julho, 2012

Uma Ciência das Cidades

Vista aérea de São Paulo.

Numa palestra ministrada ao TED o físico Geoffrey West demonstra as leis universais que governam o crescimento de uma cidade. Geoffrey West foi nomeado pela revista Time em 2006 como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, e não foi a tôa. Ele mostrou que várias características de uma cidade como taxa de crimes, PIB, salários, ocorrência de doenças e etc, podem ser preditos apenas pelo número de habitantes da cidade. E mais, ele mostra que a relação quantitativa entre essas características é universal. Seja na França, no Japão ou na Escócia os números se comportam no mesmo modo. A origem dessa universalidade, explica ele, vem da rede de interações sociais de uma cidade. Ele usa exemplos da biologia para corroborar seu argumento. 

Como físico aprecio bastante o estudo de sistemas complexos (até postei algo sobre isso outro dia). A palestra é linda do ponto de vista matemático. Como cidadão de uma grande cidade os resultados são muito importantes. Recentemente a maior parte da população do mundo tornou-se urbana, e não mais rural. Nesse contexto entender os efeitos do crescimento de uma cidade sobre sua infraestrutura é fundamental. O que acontece quando uma cidade de torna maior?  Veja você mesmo na palestra abaixo (legendas em português-br). Também indico esse ótimo artigo do The Economist. Se você é do tipo que gosta de ir bem a fundo na pesquisa, está aqui a lista de artigos científicos publicados sobre o assunto.



06 julho, 2012

Esses bósons são de Higgs ou de Deus?

Muitos físicos estão tão felizes quanto os corintianos por esses dias. Os experimentos feitos no Grande Acelerador de Hardrons (LHC, dá para ter uma noção de como é grande aqui) identificaram uma nova partícula que, estão quase certos, é o bóson de Higgs.

O que são bósons? Por que a identificação dos bósons de Higgs em experimentos é tão comemorada? Por que apelidaram os bósons de Higgs de 'partícula de Deus'?

Veja, você não pode voar sem auxílio de um avião, helicóptero ou penas. A terra é tão gorda que te atrai por meio da força gravitacional. Por que? Por que a obesidade da Terra é tão irresistivelmente atraente? Os físicos acreditam que existem partículas sem massa responsáveis por intermediar a interação entre partículas com massa, e
um bóson seria uma partícula que intermedia uma interação entre férmios.

Ok, keep calm e continue lendo. Como chegamos aqui?

Vamos dividir você em pedacinhos até onde der. Separe os órgãos, divida-os em células, desmonte a célula em pequenas organelas (ribossomos, mitocôndrias, complexos de Golgi, etc ..), separe em os açúcares, proteínas, lipídeos e depois em aminoácidos, nucleotídios... enfim átomos. E depois? Desmontando ainda mais temos prótons, nêutrons elétrons. Mas ... e se eu desmontar ainda mais? Onde isso vai parar? E o que mantém essas peças unidas?

Chegamos no âmago da discussão.  Os físicos (e eu não me incluo nessa lista)  construíram um modelo para explicar a matéria e suas interações. Nesse modelo todas as coisas são feitas de férmions (partículas de 1/2, ... semi-inteiro). Por exemplo, os elétrons, os mesmos que rasgam o céu em forma de raios, são férmions. Prótons e nêutrons são feitos de férmions, os quarks. Assim, as forças de atração e repulsão entre férmions ocorrem por meio da troca de bósons. O fóton é um bóson, uma partícula sem massa e de spin inteiro. Em particular, os fótons são os bósons que intermediam as interações eletromagnéticas, possibilitante a formação de moléculas como o DNA e a cafeína.

O Modelo Padrão é nossa tentativa de explicar três das quatro forças da natureza: a Forte, a Fraca e a Eletromagnética (veja mais sobre o Modelo Padrão nesse vídeo árabe extremamente didático). O que importa agora é que o bóson de Higgs era a última partícula perdida. Sedo ela encontrada, comfirmava de vez o Modelo Padrão. 


Uma das cinco Grandes Questões que os experimentos no LHC visavam responder  é: o que faz com que partículas tenham massa e outras não? É aí que entra o físico britânico Peter Higgs. Ele propôs a existência de um campo que permeia todo o universo (o "campo de Higgs") e interage com algumas partículas, dando massa a elas. Se essa teoria estivesse certa esse campo deveria se revelar em forma de partícula, adivinhe qual? O bóson de Higgs! Como se precisa de colisões de partículas em altíssimas energias para encontrar rastros do bóson de Higgs construíram o LHC.  Um baita brinquedo de alguns bilhões de dólares. Tudo leva a crer que o encontraram, encontraram o bóson perdido! Mas veja o trabalho duro de analisar trilhões de colisões de prótons feitas no LHC. As chances de erro, dizem, é de um em 3 milhões.


Enfim, e o que Deus tem haver com isso?


Como você deve saber, existem perguntas complicadas pra nós humanos. "Por que existe algo ao invés do nada?" é uma delas. O bóson de Higgs  é o responsável por transformar o 'nada' em 'algo', a matéria.  Como se Deus, cansado de um universo de bósons resolvesse criar os férmions e dar-lhes massa por meio do bóson de Higgs, que nesse caso não seria de Higgs, claro, e sim de Deus. Isso que pode te levar, querido leitor de mente inquieta a pensar se Deus é feito de bósons. Ou mesmo pensar se quando espíritos do além de materializam eles na verdade tomam um banho de bósons de Higgs. Quem vai saber?

O que a ciência física pode dizer é que a natureza parece funcionar muito bem de acordo com o modelo que inventamos. Afinal, como bem nos lembrou o Popper,  não podemos dizer que nenhuma lei é "verdadeira" ou um modelo é "correto", apenas que essas leis e modelos explanam melhor as nossas observações. No fim, é tudo uma questão de fé.




03 julho, 2012

Os Humanos e a Música

"Que coisa mais estranha é ver toda uma espécie, bilhões de pessoas ouvindo padrões tonais sem sentido, brincando com eles, arrebatadas por boa parte do todo pelo que chamam de 'música'. [...]
Nós, humanos, somos uma espécie musical além de linguística. Isso assume muitas formas. Todos nós (com pouquíssimas exceções) somos capazes de perceber música, tons, timbres, intervalos entre notas, contornos melódicos, e talvez, num nível mais fundamental, ritmo." -- Oliver Sacks, Alucinações Musicais, ed. Companhia das Letras.

A música tem uma íntima participação na vida de cada um de nós. Ainda assim, segundo o  famoso psicólogo William James a música surgiu por acidente, "'um puro incidente de possuirmos um órgão auditivo'" (citado por Oliver Sacks, ibidem). Steven Pinker, psicólogo contemporâneo foi mais longe ao afirmar que  "no que diz respeito a causas e efeitos biológicos, a música é inútil. [...] Poderia desaparecer de nossa espécie e o resto de nosso estilo de vida permaneceria praticamente inalterado" (citado por Oliver Sacks, ibidem). Apesar de supostamente não nos fazer falta do ponto de vista de sobrevivência, quem poderia viver sem ela?  A inexistência de música deixaria um enorme buraco em nossa experiencia humana, em nossas expressões de cultura, de amor e fúria, de desejos intensos, de angústia. A música parece ter participação forte mesmo na vida dos seres angelicais citados ocasionalmente na bíblia.  

Selecionei três composições para partilhar com você leitor. São três porque não consegui escolher uma só. Muitas outras poderiam aparecer aí. Sugestões são bem vindas.


01 julho, 2012

E disse Feynman



“Fall in love with some activity, and do it! Nobody ever figures out what life is all about, and it doesn't matter. Explore the world. Nearly everything is really interesting if you go into it deeply enough. Work as hard and as much as you want to on the things you like to do the best. Don't think about what you want to be, but what you want to do. Keep up some kind of a minimum with other things so that society doesn't stop you from doing anything at all.” Richard P. Feynman