30 setembro, 2009

Dois tipos de escritor

Faz parte dos meus objetivos de vida desenvolver a habilidade de escrever ao máximo possível. Tendo isso em vista, iniciei a leitura de Sobre o ofício do escritor, de Arthur Schopenhauer, editora Martins Fontes. Já de início, nas três primeiras linhas do livro, grandes expectativas se acenderam do que estava por vir.


"Antes de tudo, há dois tipos de escritor: os que escrevem por amor do assunto e os que escrevem por escrever." pg.3.


Achei perfeita essa divisão. Mais adiante ele observa:


"Só quem é movido exclusivamente pela causa que lhe interessa escreve o que é digno de ser escrito." pg.4.


Tão logo você percebe que o livro que você está lendo foi escrito por um escritor do segundo tipo, aconselha Schopenhauer, deve-se se "desfazer do livro, pois o tempo é precioso."

09 setembro, 2009

Para eu não me esquecer

Um dia, quando Ben Franklin era jovem inexperiente, um "old Quaker Friend" chamou-o de parte e fustigou-o com algumas verdades ferinas, alguma coisa parecida com o seguinte:

"Ben, você é impossível. Suas opiniões possuem sempre uma ofensa qualquer para os que delas diferem. Tornaram-se tão desagradáveis que ninguém as procura. Seus amigos divertem-se mais quando você não está presente. Você conhece tanta coisa que as outras pessoas nada lhe podem dizer. Deste modo, ninguém ousa experimentar, pois o esforço o levará apenas a um trabalho penoso e desagradável. Por isso, você não tem probabilidade de conhecer nada mais do que já conhece agora, o que, diga-se de passagem, ainda é bem pouco".

Uma das coisas mais notáveis que conheço sobre Ben Franklin foi o modo pelo qual ele recebeu esta sábia repreensão. Foi bastante grande e bastante sábio para compreender que tudo aquilo era verdade, vendo que estava sendo levado para um fracasso e para um desastre social. Assim, transformou-se por completo. -- Dale Carnegie, Como fazer amigos e influenciar pessoas.

04 setembro, 2009

O Beija-flor



Hoje vi um beija-flor. Subitamente um enorme senso de admiração -- quase inveja -- tomou conta de mim. A graciosidade e precisão de seus movimentos me lembraram a Primavera de Vivaldi. Sua estabilidade em vôo fazia um monge budista parecer um inquieto hiperativo. A incrível velocidade de seu bater de asas embaralhavam caprichosamente os fótons de luz, dissolvendo-as no ar, ficando invisível ao radar de meus impotentes olhos. Seu bom gosto é indiscutível, se veste escandalosamente bem. É cavalheiro o suficiente para beijar as mais lindas flores sem lhes causar dando. Inigualável Beija-flor.

29 agosto, 2009

Perfeita Felicidade


"A perfeita felicidade dos homens sobre a terra (se ela um dia acontecer) não será uma coisa plana e sólida, como a satisfação dos animais. Será um equilíbrio exato e perigoso; como o equilíbrio de um romance desesperado. O homem precisa ter a medida exata e suficiente de fé em si mesmo para ter aventuras; e ter a medida exata e suficiente de dúvida de de si mesmo para desfrutá-las." G. Chesterton, Ortodoxia, pg.188.

27 agosto, 2009

Sobre a Franqueza

Certo dia eu estava preocupado com meu excesso de franqueza. Comecei então a imaginar se por sete dias todos os pensamentos de todas as pessoas fossem audíveis como a voz. O que você acha que ocorreria? Que precauções você tomaria ao sair pela rua, ao tomar um ônibus cheio ou durante uma conversa com conhecidos? Sinceramente, acho que tamanha seria a confusão que faria com que todos quisessem ficar em casa durante esses sete dias, exceto, talvez, os psicólogos e os ladrões de senhas bancárias. (Você acha que em um desses dias o Sarney daria alguma entrevista? Acho que nem pra falar de futebol...)

Os evangelhos dizem que Jesus conhecia os pensamentos das pessoas, nesse sentido talvez fosse assustador ficar perto dele. Não dava pra ser fingido, não dava pra mentir, ele saberia. A coisa era mais complexa. Jesus tinha o costume de revelar abertamente os pensamentos do seus interlocutores durante a conversa. É bem interessante olhar essas cenas. A multidão pergunta "Mestre, quando chegaste aqui?" (do outro lado do mar), a resposta de Jesus? Leia: "A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os sinais milagrosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos." (João 6:25 e 26, NVI) Acho que Jesus sabia o suficiente de natureza humana para prever a reação às suas palavras, mas ele falou mesmo assim. Fico me perguntando até onde isso é aplicável a mim considerando aquela máxima cristã de "o que Jesus faria em meu lugar?". Tenho medo de minhas conclusões.

24 agosto, 2009

Idéia Hiper-ativa

"Com efeito,um dia de amanhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma idéia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volantim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te." Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, cap II.

Ainda leio o Machado ...

21 agosto, 2009

"Padrão Assombroso"

"Enquanto minha classe em Chicago lia os evangelhos e assistia a filmes sobre a vida de Jesus, notamos um padrão assombroso: quanto mais sem sabor as personagens, mais à vontade pareciam sentir-se ao redor de Jesus. Pessoas como essas achavam Jesus atraente: um pária social samaritano, um oficial militar do tirano Herodes, um cobrador de impostos traidor, uma recente hospedeira de sete demônios.

Em contrapartida, Jesus recebia uma reação gelada de tipos mais respeitáveis. Os piedosos fariseus achavam-no desajeitado e mundano, um rico e jovem advogado afastou-se sacudindo a cabeça e até mesmo o esclarecido Nicodemos procurou um encontro sob a cobertura das trevas.

Frisei para a classe como esse padrão parecia estranho, uma vez que a igreja agora atrai tipos respeitáveis que se pareciam muito com as pessoas que mais suspeitavam de Jesus na terra. O que teria acontecido para inverter o padrão existente no tempo de Jesus? Por que os pecadores não gostam de ficar ao nosso redor?" Philip Yancey, O Jesus Que eu Nunca Conheci, ed. Vida, pg.159.

05 agosto, 2009

O livre-arbítrio é quântico?



"Deus não joga dados", afirmou Einstein em réplica à idéia de que o acaso e as leis da probabilidade eram a essência do mundo atômico. Não vejo problema algum com os dados. A teoria quântica se mantém desde então, com grande sucesso. Se o átomo é melhor descrito pela estatística porque é aleatório por natureza ou se por causa de uma limitação nos nossos instrumentos de medida, eis uma questão que até onde eu sabia ninguém tinha respondido. Ontem li a página de um estatístico que garantia que a aleatoriedade intrínseca do átomo havia sido demonstrada (embora eu não acredite que o tenha sido). Enfim, o que isso tem haver com o livre-arbítrio? Acontece que se todos os processos dinâmicos e interações da natureza forem descritos por leis precisas eu não consigo imaginar como existiria o livre-arbítrio (você consegue?). Como observou Laplace certa vez:

"Uma inteligência que, num dado instante, conhecesse todas as forças de que a natureza está animada, e a situação respectiva dos seres que a compõem, se além disso fosse suficientemente vasta para submeter estes dados à análise, abarcaria na mesma fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do mais leve átomo: nada seria incerto para ela, e o futuro, tal como o passado, estariam presentes a seus olhos."

Essa é a única maneira de saber o futuro? Não, tem outra:

"...para um ser hipotético que vivesse além do espaço e do tempo e contemplasse o espaço-tempo, a linha de universo de cada partícula estaria completamente desenhada, representando o movimento em sua totalidade (passado, presente e futuro). Em imagens simples, a inclusão do tempo na geometria do movimento transforma o filme do movimento numa fotografia estática de idêntico conteúdo." O Tempo na Física, Revista USP N.3, Henrique Fleming.


Suponhamos que o átomo seja realmente intrinsecamente aleatório. Como se daria o livre-arbítrio? Nossas escolhas dependeriam de um sorteio atômico interno? Minha hipótese é que em parte sim. Eu estava tentando imaginar como isso ocorreria quando me veio à mente que nossas várias possibilidades de escolha poderiam ser "sorteadas" na mente num tempo curtíssimo e submetidas à razão e à vontade para que estas decidam se a acatam ou não. Isso é perfeitamente plausível. Dependendo da eficiência do sorteio, todas as possibilidades podem ser pensadas e uma escolhida (a decisão de não escolher, lembremos, também é possível).

Uma segunda pergunta me ocorreu: será que parte de nossa "inteligência", a habilidade pensar em várias possibilidades e escolher a melhor, a correta, tem haver com a eficiência e velocidade com que nosso sistema cerebral é capaz de sortear possibilidades? Será que aquela idéia que veio do nada é explicada por um sorteio acertado e súbito nos átomos que compõe as sinapses dos neurônios? Me parece razoavelmente coerente. Se o livre-arbítrio e as idéias seguem uma lógica similar a esta, Deus pregou uma peça em todos nós. Ele vê o futuro porque está fora do tempo, nós (e o diabo) só podemos dar palpites de probabilidade (o diabo melhor que nós). Mas enfim, estou só especulando...

02 agosto, 2009

Dilema de Máximos

Uma rápida idéia me veio a mente: Para seres com livre-arbítrio, quanto maior a possibilidade e intensidade de bem que se pode experimentar com a mente e os sentidos, tanto maior será a possibilidade e intensidade de mal experimentável. Caso você resolva criar um universo de criaturas inteligentes e livres você deve pensar sobre isso.

23 julho, 2009

Mera Especulação

A leitura da obra A Lógica da Pesquisa Científica, escrita pelo filósofo da Ciência Karl Popper tem sido extremamente elucidativa, me esclarecendo várias facetas da atividade científica. Popper aborda a própria teoria do todo-poderoso método científico, revelando suas bases e crenças, as quais ele chama de "decisões metodológicas". Uma discussão especialmente interessante ocorre sobre onde exatamente está a linha divisória entre a ciência e a metafísica. Popper observa que os positivistas, que queriam apenas admitir como legítimos (ou científicos) os conceitos que derivassem da experiência, tinham um desejo intenso por ver "a derrubada total e a aniquilação da Metafísica" (pg.36). Ele mostra em sequência que a o mesmo argumento por eles usado para extirpar a Metafísica destrói, juntamente, a Ciência Natural. Nenhuma lei da Natureza pode ser demonstrada pela experiência, justamente porque jamais poderemos submeter a teste dos os sistemas existentes. Por exemplo, para demonstrar a validade universal da lei de gravitação de Newton deve-se necessariamente submeter a verificação todos os corpos (estrelas, asteróides, planetas, e etc) existentes no universo. Uma vez que nenhum enunciado universal poderá ser jamais verificado toda a Ciência não passa de uma declaração de fé e portanto puramente Metafísica. Logo é necessário outro critério de demarcação que não o da verificabilidade, e daí então Popper passa a construir o conceito de falseabilidade, que discutiremos numa outra hora.

Abaixo segue uma citação do Popper sobre a influência que exerceu (e exerce) a Metafísica sobre as descobertas científicas.

"Com efeito, é impossível negar que, a par de idéias metafísicas que dificultam o avanço da Ciência, têm surgido outras -- tais como as relativas ao atomismo especulativo -- que o favoreceram. Encarando a matéria do ponto de vista psicológico, inclino-me a pensar que as descobertas científicas não poderiam ser feitas sem fé em idéias de cunho puramente especulativo, e, por vezes, assaz nebulosas, fé que, sob ponto de vista científico, é completamente destituída de base e, em tal medida, é 'metafísica'." Karl Popper, A Lógica da Pesquisa Científica, ed. Cultrix, pg.39 e 40.